A exclusão de representantes da Polícia Civil no grupo responsável por discutir a criação da Lei Orgânica da instituição intensificou o desgaste entre o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a categoria, que já acumulava críticas desde o início da gestão.
Escolhas controversas e insatisfações iniciais
A insatisfação dos policiais civis começou no final de 2022, com a nomeação de Guilherme Derrite (PL) como secretário da Segurança Pública. Tradicionalmente liderada por promotores, procuradores ou advogados, a escolha de Derrite, ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), foi interpretada como um favorecimento à Polícia Militar em detrimento das outras forças de segurança.
Nos três anos sob a gestão de Derrite na Secretaria da Segurança Pública (SSP), delegados apontaram que o fortalecimento moral das tropas da PM foi acompanhado por discursos que incentivaram ações truculentas, o que teria aumentado os casos de abuso em abordagens contra a população.
Reajustes salariais e promessas não cumpridas
No início do governo, um dos primeiros projetos enviados à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) gerou atritos entre a gestão Tarcísio e os policiais civis. A proposta de reajuste salarial previa aumentos mais expressivos para os militares em comparação aos civis, gerando insatisfação entre os delegados e colocando a bancada da bala sob pressão.
Embora Tarcísio tenha prometido reajustes adicionais ao longo do mandato, em 2025 o Sindicato dos Delegados de São Paulo (Sindpesp) continua cobrando não apenas os aumentos prometidos, mas também a reestruturação das carreiras da Polícia Civil, outra promessa de campanha que, segundo a categoria, permanece sem avanço.
Investigação pela PM gera controvérsias
Outro ponto de tensão foi o projeto que permitiria à Polícia Militar conduzir investigações em casos de “menor potencial ofensivo” por meio do Termo Circunstanciado Polícia Militar (TC/PM). Proposto em 2024, o plano irritou os delegados, que enxergaram na iniciativa uma tentativa de enfraquecer as atribuições da Polícia Civil. O debate sobre o tema permanece em aberto, aguardando uma decisão do governador.
Debate sobre Lei Orgânica e críticas da categoria
A recente formação de um grupo de trabalho para discutir a criação da Lei Orgânica da Polícia Civil, sem a inclusão de representantes da categoria, agravou ainda mais os atritos. Para o deputado federal Delegado Palumbo (MDB), a ausência foi um gesto desnecessário que só intensifica a divisão entre as polícias.
“Seria tão fácil agradar a Polícia Civil. Bastaria um tratamento igualitário em relação à Polícia Militar”, criticou Palumbo. Ele também classificou a exclusão como “inocente ou maldosa” e questionou os benefícios que o governo poderia obter com essa postura: “Isso racha cada vez mais as polícias. Para quê? O que o governo ganha com isso? Absolutamente nada.”
Com o histórico de promessas não cumpridas e decisões que favorecem a Polícia Militar, Tarcísio de Freitas enfrenta o desafio de reverter o crescente desgaste com a Polícia Civil, que cobra reconhecimento e igualdade em relação à corporação militar.
A sociedade paulista perece e acaba sofrendo ao final, com policiais civis desmotivados e descontentes com as omissões do governo.
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